Mote:
"Se o tempo não passasse e a gente não envelhecesse"
Foi na Prata-PB, cantando no beco da bodega de Mariano Morcego, com Lino Pedra Azul, quando começou esta bela sextilha:
Nisso, chegou Pedro Caial - um negro magro, comprido e desengonçado, completamente embriagado, mas grande admirador do cantor. Caial partiu para lhe dar um abraço, caindo por cima dele, quase derrubando-o. Alguém da platéia, de pronto, veio acudir e levou Pedro Caial embora; Pinto se peneirou e retomou a sextilha:
Fonte: Pinto Velho do Monteiro - Um cantor sem parelha.
Autor: Joselito Nunes
Edições Bagaço
Poeta repentista Oliveira de Panelas
Oliveira de Panelas (homenageando Luiz Gonzaga)
Na fazenda Caiçara ele nasceu
Dia 13, dezembro o ano doze
Superar seu reinado ninguém ouse
Pois aos gênios o mundo se rendeu
Dezenove, oito nove, faleceu
Dia dois de agosto, triste dia!
A sanfona calou a melodia
O Baião não tem mais substituto
O Nordeste gemeu e botou luto
Pela falta de sua companhia.
Pedro Bandeira
Admiro demais o ser humano
Que é gerado num ventre feminino
Envolvido nas dobras do destino
E calibrado nas leis do soberano
Quando faltam três meses para um ano
A mãe pega a sentir uma moleza
Entre gritos lamúrias e esperteza
Nasce o homem e aos poucos vai crescendo
E quando aprende a falar já é dizendo:
Quanto é grande o poder da Natureza.
Gleison Nascimento
A vida é um sopro da eternidade,
Que esfria a sopa da morte malvada,
Que espera a hora, sofrida e calada,
De mostrar pro mundo a sua maldade,
E um cantador preso à liberdade,
Uns versos cansados gosta de rimar,
E quando a morte vem pra lhe buscar,
Recorre a fé, buscando guarida
Briga com a morte, pois gosta vida
Cantando galope na beira do mar.
E faz sua arte um trunfo eterno,
E canta bonito prá Deus lhe sentir,
E por essa prece, Deus vai lhe ouvir,
E vai lhe tocar, no afago mais terno
E manda a morte , voltar pro inferno
Pois esse poeta ela não vai levar,
E segue o poeta na vida à rimar,
E Deus escutando seu canto mais grato
Tomando um vinho daqueles barato
Com dez de galope na beira do mar.
Cego Sinfrônio
Eu, atrás de cantadô
Sou como boi por maiada
Como rio por enchente
Como onça por chapada
Como ferrôi por janela
Menino por gargaiada!
Eu, atrás de cantadô
Sou como abêia por pau
Como linha por agúia
Como dedo por dedal
Como chapéu por cabeça
E nêgo por berimbau
Eu, atrás de cantadô
Sou como vento por praia
Como junco por lagoa
Como fogo por fornaia
Como piôi por cabeça
Ou pulga por cós de saia!
Lourinaldo Vitorino
(Em homenagem a Otacílio Batista Patriota)
As violas de luto soluçando
Dão adeus ao Bocage do repente,
Um fenômeno de arte, um expoente,
Que de cinco a seis décadas improvisando
Sua voz de trovão saiu rasgando
Modulando a palavra em cada nota
Pra cultura um nocaute, uma derrota,
Um desastre, uma perda, um golpe horrendo,
Enlutado o repente está perdendo
Otacílio Batista Patriota.
Zé Bezerra
Inesquecível sertão
Terra dos meus ancestrais
Dos meus avós, dos meus pais
Todos do mesmo rincão
Tenho a recordação
Daquele tempo passado
Que tirava no roçado
As moitas de mororó
Caçava, armando quixó
No sertão que fui criado.
Ali o povo vivia
Com muita simplicidade
Sem requinte e vaidade
Sem modismo e fantasia
Cada família queria
Ver cada filho educado
O povo era acostumado
A servir e respeitar
Dava gosto se morar
No sertão que fui criado.
Sertão caboclo da luta
Do camponês destemido
Que mesmo sendo esquecido
Faz valer sua conduta
E da cabocla matuta
Que faz serviço pesado
Limpa mato, tange gado
Ceva capão e suíno
Todo ano tem menino
No sertão que fui criado.
Essa gente nordestina
Tem cultura e tradição
É bom se ver no sertão
Toda festança junina
No toque da concertina
O forró é animado
No pavilhão enfeitado
Ali perto da floresta
É meio mundo de festa
No sertão que fui criado.
Sertão fértil, terra boa
Que tem raposa e gambá
Xexéu, concriz, sabiá
Garça e pato na lagoa
Orelha de pau e broa
Fígado de porco torrado
Milho assado e cozinhado
Galinha que cacareja
Bode que berra e bodeja
No sertão que fui criado.
13 setembro 2013REPENTES, MOTES E GLOSAS - Pedro Fernando Malta
Valdir Teles e Zé Viola improvisando com o tema ”O boi amarrado no pé da cajarana“:
* * *
SECA PARA QUEM? – Simone Passos
Um país onde cada Comissão
(De Direitos Humanos, de Justiça…)
É corrupta, inerte e omissa,
Quem preside é racista ou é ladrão;
Um país que não olha pra o sertão,
A não ser que precise dele um dia;
Que é covarde e só faz demagogia,
Como pode mudar o seu destino
Se só mente a esse povo nordestino
E ignora o que é cidadania?
A indústria da seca é lucrativa
Gera renda aos que investem nela,
Reduzindo o sertão à bagatela
De uma terra sem vida, improdutiva,
Onde só o governo é quem cultiva
As sementes da alienação
Pra colher os seus frutos na eleição,
Iludindo e enganando o inocente
E depois humilhar toda essa gente
Esquecendo essa gente e o sertão!
Sertanejo também tem sede e fome
Não somente de água, leite ou pão
Tem a fome de ser um cidadão
De não ser indigente, ter um nome
É sedento da força que não some
Numa luta de um povo que não cansa,
Sertanejo tem fé, perseverança
Pra enfrentar um governo surdo e mudo
Ante um povo que tem fome de tudo,
Mas que só se alimenta de esperança!
* * *
NA TRISTE NOITE DA CORRUPÇÃO – Merlânio Maia
Eis a nação que sonha embevecida
Ser um exemplo aos povos do futuro
E agora acorda em seu triste monturo
Que foi forjado ao longo de sua vida
Desde o império se inclina em descida
Com sanguessugas que sugando vão
Multiplicando sujeira em seu chão
Frente ao pomposo poder do império
Incomodando heróis no cemitério
Na triste noite da corrupção!
Seus mortos, hoje, tão desesperados
Saem às ruas, levantam bandeiras,
Dançam nas praças, alamedas, feiras…
Profundamente decepcionados
De Tiradentes escuta-se os brados
De Castro Alves a indignação
Voltam os poetas da libertação
Junto aos heróis, do além, republicanos,
Dançam nas noites contra os tais tiranos
Na triste noite da corrupção!
Se o tempo urge, a tal nação se arrasta…
Só vendo seu pobre povo humilhado,
Presenciando o roubo deste estado
Que, a cada dia, da riqueza afasta.
– Aos miseráveis, pão com circo basta!
E a liberdade escorre pela mão
E num crescendo se esparrama ao chão
No gesto tosco desse vai e vem
Só sonhadores gritam do além
Na triste noite da corrupção!
Os pigmeus da moral querem trono
Mesmo levando o país ao abismo
Ninguém vê honra, lisura, altruísmo!…
Brasil delira feito um cão sem dono
Em berço esplêndido o gigante é sono,
Enferrujado na acomodação
A idiotice contamina o chão
O povo dorme e o vazio é extenso,
Os mortos gritam vendo o mal imenso
Na triste noite da corrupção!
A hipocrisia é corrente moeda
E a mentira agora é um ideal
A mídia cria a tal versão final
E o fato perde a força e leva queda
Quem mente mais do poder não se arreda
A lama envolve e a TV faz serão,
Faz a cabeça – dona da razão!
E o povo teme e tremendo obedece.
Há uma teia que a aranha tece
Na triste noite da corrupção!
Brasil desperta, apresenta a imponência!
Acorda e grita: Independência ou morte!
Colosso impávido, de infinito porte,
Mostra a lisura da tua inocência
Chama os teus filhos plenos de decência
Expulsa o mentiroso e o ladrão
Levanta o braço de enorme nação
Que vibra dentro do teu forte povo
Faz teus heróis renascerem de novo
Na triste noite da corrupção!
* * *
Um folheto de Jotacê Freitas
CORDEL PARA A PRESIDENTA DE UM PROFESSOR AFLITO
Excelentíssima Dilma
Presidenta do Brasil
Leia este desabafo
De um cidadão servil
Que elegeu a senhora
Por ter crido no que viu.
Vi que sua bela história
Não ocorreu por acaso
Sua missão era esta
Acabar com o atraso
Pois com a mulher por cima
Crescimento não tem prazo.
Não sei se a mosca azul
Que picou o nosso Lula
Ou os tais acordos tácitos
Que a muita gente embrulha
Mudou nossa governanta
Que aos políticos adula.
É um toma lá dá cá
Envolvendo altos valores
Empreitadas ministérios
Secretários assessores
E pra piorar o caso
Corrompem corruptores.
Aderaldo Ferreira de Araújo (Jun/1878 – Jun/1967), o Cego Aderaldo, um dos maiores nomes da cantoria e do improviso nordestino de todos os tempos (Ilustração de Walter Caldeira)
Cego Aderaldo
Ah! Se o passado voltasse,
Todo cheio de ternura.
Eu ainda tinha vista,
Saía da vida escura…
Como o passado não volta
Aumenta minha tristeza:
Só conheço o abandono
Necessidade e pobreza.
Pelejo e não me acostumo
Na capital da Nação
Tudo aqui é diferente
Das coisas do meu Sertão
Lá tiram leite da vaca
Aqui é no caminhão.
* * *
Ivanildo Vilanova
É o céu uma abóboda aureolada
Rodeada de gases venenosos
Radiantes planetas luminosos
Gravidade na cósmica camada
Galáxia também hidrogenada
Como é lindo o espaço azul-turquesa
E o Sol fulgurante tocha acesa
Flamejando sem pausa e sem escala
Quem de nós poderia apagá-la
Só o santo doutor da natureza…
* * *
Zé de Almeida
O meu verso já tem se comparado
Com o mel da abelha jandaira
Com o perfume da flor da macambira
Com o campo florido perfumado
Com as flores que cobrem todo o prado
Com o sol amarelo cor de gema
Com o canto feliz da seriema
Com o grito saudoso da graúna
Com a casca de pau da baraúna
E o verdume da folha da jurema.
* * *
Cícero Pedro
Peguei a minha caneta
pra fazer mais um poema;
poeta tem que versar
disponha ou não de um bom tema,
dar expressão ao seu estro,
deve ser sempre o seu lema.
* * *
Dimas Batista
Os carinhos de mãe estremecida
Os brinquedos do tempo de criança
O sorriso fugaz de uma esperança
A primeira ilusão de nossa vida
Um adeus que se dá por despedida
O desprezo que a gente não merece
O delírios da lágrima que desce
Nos momentos de angústia e de desgraça
Passa tudo na vida tudo passa
Mas nem tudo que a gente passa esquece
* * *
Sebastião Dias
Pra você segunda-feira
Eu servirei de correio
Quem tiver cartas escreva
Que levo um malote cheio
Com lágrimas de quem não foi
E lembranças de quem não veio
* *
Um folheto de Antonio Barreto
ESSE CARA SOU EU: RENAN CALHEIROS!
Nas praias de Salvador
Num domingo azul-anil
Eu disse para mim mesmo:
“O negócio está barril!
Será que Renan Calheiros
É o cara do Brasil?”
De MP3 na mão
Resolvi entrevistar
As pessoas que chegavam
Pra tomar banho de mar…
Não faltou foi bom humor
Conforme vou relatar!
Antes da noite chegar
Encerrei a entrevista
Gente de todas as classes
Presente na minha lista…
Então veja o que disse
Nosso povo ao cordelista:
- Roberto Carlos falhou,
Eu deixei de ser seu fã!
Esse cara tão rretado
Não sou eu, nem D. Juan,
Esse cara na verdade
É o Senador Renan!